xat pra quem tem o rap na veia

http://xat.com/web_gear/chat/activategroup.php?id=549134186

ESPAÇO PRA REFLEXÃO

Nos últimos anos, o público das periferias brasileiras, em um primeiro momento fiel ao rap nacional, tem curtido muito o funk. Essa perda de espaço tem gerado reflexões sobre a atuação do estilo. “Quando as portas começavam a se abrir, o rap falou ‘lá eu não vou, isso a gente não faz, lá a gente não pode’. Se fechou em muitos lugares, mas ainda assim conquistou muita gente e cumpriu um papel”, avalia Naldinho.
Marco Antônio, o Markão II, 38 anos, é membro do grupo DMN, e segundo ele o hip hop não construiu uma estrutura política, mesmo que alguns tenham atingido para si um nível de organização pessoal. “Eu não consigo bater no peito e dizer que a cultura está muito bem, porque mais uma geração envelhece e não conseguiu ter uma estrutura de rádios, lojas, casas de shows, revistas. Isso é sinal que a gente falhou em algum momento, e não acho que a nova geração está preocupada em fazer isso. O rap vai ser mais um gênero musical como outro qualquer, sem diferença nenhuma”, declara.
Durante todos estes anos, os Racionais MC’s e outros negaram inúmeros convites da grande mídia. Para Edi Rock, ver o grupo na TV vai depender muito do formato: “Eu não consigo ver o grupo na televisão, a não ser em programas que tenham a ver com a nossa cara”, afirma.
Mas muitos rappers conheceram de perto essa mídia como Rappin’ Hood, Thaíde, Xis, KL Jay, RZO. Hoje, por exemplo, o carioca MV Bill tem papel em Malhação, e conta que sempre respeitou os grupos que foram avessos à mídia, mas optou por outro caminho. “Apesar de ter estagnado um pouco, o hip hop me fez gostar de comunicação, e o meu parceiro Celso Athayde me ensinou a utilizar a mídia a nosso favor e, quando possível, intervir nesta realidade”.
Thaíde também “não teve medo de fazer”, como ele diz, e após deixar a apresentação do Manos e Minas se integrou à equipe do programa A Liga, da Bandeirantes. “A gente ensinou muita coisa, mas não ensinamos ninguém a lidar com a TV, com os rádios, a se profissionalizar, a ser artista. E isso também é importante”, opina.
Por ter um discurso político e reivindicatório, o rap quase que naturalmente se afastou da grande mídia e se aproximou da vida política, via partidos e movimentos sociais. Vários envolvidos com a cultura já se candidataram ou assessoram e apoiam publicamente candidatos. Erlei Melo, 36 anos, rapper do grupo Face da Morte, conhecido como Aliado G, disputou vaga de deputado estadual pelo PC do B, em São Paulo. “Somos muitos e muito fortes. Acredito que entre nós podem existir médicos, engenheiros, advogados e lideranças políticas. O que temos de diferente da elite são as oportunidades”, diz.
Aliado G criou o Face da Morte em 1995, em Hortolândia, no interior paulista, e como selo lançou discos do GOG, Realidade Cruel e Clã Nordestino. “Independentemente da vontade de A ou B, a arte transforma ou conserva a sociedade. A nossa transforma”, sintetiza. GOG concorda. “Lá em nossa base, na periferia, na origem do hip hop, é onde temos de estar com o amálgama preparado. Nós somos música para transformar a sociedade, a comunidade. Trabalhando contra nós mesmos, sempre sairemos derrotados.”